• Revista Pernambuco #22

Revista Pernambuco #22

Em estoque

R$ 20,00

+

Sinopse

Ortega y Gasset e as nossas circunstâncias

No início do próximo ano, a obra de José Ortega y Gasset (1883-1955) passa ao domínio público, no Brasil. Ao falecer, em 18 de outubro de 1955, era um dos autores europeus mais influentes. Assim dissertou Gilberto Freyre em O Cruzeiro (20-9-1958): “Ele sabia ser um mestre atento aos problemas, às indecisões e aos esforços dos jovens, sem resvalar na adulação aos novos”.

No perfil rigoroso traçado, nesta edição da Pernambuco, pelo professor José Antonio González Alcantud, a dimensão do seu compatriota espanhol está bem-estabelecida.

Na metade dos anos 1950, aprofundava-se a Guerra Fria e a tecnologia começava a despontar com força, até chegar ao momento atual, de quase onisciência, onipresença e onipotência. É ela hoje o “tema do nosso tempo”, para usar uma expressão tão de Ortega y Gasset, e para ela se insinuam as palavras transcritas adiante, que poderiam servir de uma nova meditação – quixotesca ou não –, para os perplexos de hoje diante da chamada Inteligência Artificial. O trecho faz parte do seu livro Meditación de la técnica, de 1939. Não deixa de ser curioso – mas, certamente, não é coincidência, que a Meditación del Quijote, de 1914, e a de la técnica, de 1939, tenham sido publicados, respectivamente, no início da Primeira e da Segunda Guerra. Eis o que diz o espanhol sobre a técnica:

“Há outra razão, decisiva, para que a ideia da técnica não se separe e isole da ideia da pessoa que a exerce, e é que ainda a invenção só conseguiu produzir instrumentos e máquinas. Essa distinção é essencial. A primeira máquina propriamente dita, e, com isto, antecipo o terceiro estágio, é o tear de Robert, criado em 1825. É a primeira máquina, porque é o primeiro instrumento que age por si mesmo, e por si mesmo produz o objeto. Por isso foi chamado de self-ator, e daí temos selfatinas. A técnica deixa de ser o que até então tinha sido, manipulação, manobra, e se torna, stritu sensu, fabricação. No artesanato, o utensílio ou o instrumento, é apenas um complemento do humano. Este, portanto, o ser humano, com seus atos ‘naturais’, continua sendo o ator principal. Na máquina, em contrapartida, o instrumento passa para o primeiro plano, e não é ele que ajuda o homem, mas o contrário: é o homem quem, simplesmente, ajuda e complementa a máquina. Por isso, ao trabalhar por si mesma e se separar do humano, ela fez com que este percebesse intuitivamente que a técnica é uma função separada do ser humano natural, muito independente dele, e não limitada aos seus limites. O que um homem, com suas atividades fixas de animal pode fazer, nós sabemos de antemão: seu horizonte é limitado. Mas o que as máquinas que o homem é capaz de inventar podem fazer é, em princípio, ilimitado”.

Mario Helio, editor

Características

  • Edição: Outubro/2025
  • ISBN: 97725270110050002

Etiquetas: Revista Pernambuco, Pernambuco, Outubro, 2025, Ortega y Gasset, circunstâncias, domínio público, filosofia, técnica, tecnologia, inteligência artificial, Guerra Fria, Meditación de la técnica, Meditación del Quijote, Primeira Guerra, Segunda Guerra, máquina, artesanato, fabricação, humanidade, história das ideias, pensamento espanhol, José Antonio González Alcantud, Gilberto Freyre