Sinopse

Talvez a data dos 80 anos de um autor seja especialmente festejada pelo fato de que a expectativa da vida humana pouco ultrapassa, em geral, os 70. Uma das interpretações mais populares do primeiro verso da Commedia é que o tal “meio do caminho” refira-se aos 35.

O escritor Cláudio Aguiar completou 80 anos bem vividos em outubro deste 2024. Pretexto para diversas homenagens, a começar por uma das mais importantes: a publicação de uma antologia de mais de 600 páginas de sua fortuna crítica.

Obra rica, multifacetada e premiada, está a merecer das novas gerações leituras dos seus romances, peças de teatro, biografias. Algo similar ocorre com o poeta Mauro Mota: merece ter os seus livros redescobertos: a recompensa é tão rica quanto escutar os movimentos variados de uma sonata. Meio às avessas, pois começando pelo adagio de suas elegias ao allegro dos tantos bons exemplos de sua prosa.

O poeta Luiz Nery, na época em que foi vereador, fez aprovar uma lei designando a data de nascimento de Mauro Mota – 16 de agosto – como o dia do poeta recifense. Um simbolismo assim no berço, e não no túmulo, é uma celebração que vale a pena referir de alguém que escreveu um poema sob o título de “Morte sucessiva”, que traz os versos tão abnegados e consoladores, como estes: “Não tenhas medo. /Tudo já aconteceu”.

A vida sucessiva, com seus mistérios, suas surpresas e inquietações, é a de todos os escritores dignos deste nome. Vem sendo a matriz dos romances de Cláudio Aguiar. A vida coletiva refletida no Caldeirão; a vida íntima, em A volta de Emanuel. Seja como for, tanto no caso do poeta quanto do romancista, é a força da História e da Memória o que mais conta. No caso de Cláudio, a narrativa assume várias formas, e uma das mais eloquentes é o oratório que compôs sobre Frei Caneca (cujo bicentenário de morte completa-se no próximo mês: janeiro de 2025). De ambos, e de muitos outros autores, nutre-se esta edição, que marca um ano de aniversário da nova revista Pernambuco.