• Revista Pernambuco #15

Revista Pernambuco #15

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Sinopse

Homens, mulheres e mickeys

Uma das formas de melancolia risonha é o gênero híbrido da ficção científica ou, como dizem outros, ciência-ficção. Se o assunto da narração for a multiplicação artificial de seres humanos, a clonagem, ou a ressurreição, chega-se a algo tão extremo quanto aquilo dito por Flaubert sobre o seu estado de espírito ao escrever Salambô: “Sabe quão triste precisa estar um homem para ressuscitar uma cidade?”.

Uma palavra campeã de menções nos tempos atuais é empatia. Seja para tratar da sua necessidade, de sua quase exigência ou escassez. Bastaria somente dizer que a empatia define o sentimento de humanidade. A partir de sua imanência. Os chamados neurônios-espelho. No entanto, a metáfora do espelho tão rica na literatura nem sempre é tida em alta conta. Mais melancólico do que haver espelhos, é poder multiplicá-los. Como, aliás, disse melhor um obcecado por eles – obsessão irônica porque era cego. Jorge Luis Borges, no conto fantástico “Tlön, Uqbar, Orbis Tertius”, insere a frase retirada de uma enciclopédia imaginária: “Os espelhos e a cópula são abomináveis, porque multiplicam o número dos homens”.

O clone exclui a cópula, mas não deixa de ser uma fórmula de espelho. Se a monstruosidade e a abominação dos espelhos-clones chegarem aos humanos - o que é possível – a ficção, mais uma vez, fecundará a realidade. Por enquanto, vale a pena ler uma das mais divertidas fantasias a respeito do assunto, que é Mickey7, do estadunidense Edward Ashton. Uma extraordinária fábula de humor; e, como todos sabem, dizem humor é lembrar, de novo, da melancolia. Presente, por sinal, na pergunta cínica do mundo do cine e do desenho animado: “você é um homem ou um rato?” De todo adequada para uma espécie que depende tanto dos ratos nas suas pesquisas.

Se há uma vantagem em ser ao mesmo tempo cientista e escritor, Ashton foi “abençoado” com a dupla virtude. Ele se dedica à pesquisa de novas terapias para o câncer, especialmente no laboratório da Biotelemetry Research, onde é vice-presidente do setor de Imagem Oncológica. Tem também dado aulas de física quântica.No quase subgênero da “ficção especulativa” ele se notabiliza. É autor de vários outros livros, além do que destacamos na capa desta edição. Informações sobre isso podem ser obtidas no seu site: edwardashton.com.

Mário Hélio

Etiquetas: homens, mulheres, mickeys, melancolia, ficção científica, clonagem, ressurreição, Flaubert, Salambô, empatia, humanidade, neurônios-espelho, Borges, espelhos, cópula, clones, monstros, abominação, realidade, ficção, humor, Mickey7, Edward Ashton, fantasia, cientista, escritor, câncer, física quântica, ficção especulativa